MOTOR NOVO

terça-feira, 13 de outubro de 2009



Romaria??
Quando eu digo que só me meto em roubada, ninguém acredita...
Tenho um amigo maluco que certa vez decidiu fazer uma Romaria até Aparecida do Norte para agradecer a chegada do seu primeiro filho.
Para não ter que ir sozinho, contou com alguns amigos – desavisados – na promessa, incluindo a obesa que vos escreve.
Foi praticamente um mês de preparativos e gozações. Até falar que ele seria acompanhado por uma sedentária – minha irmã- e por um idoso – meu pai - ele falou...
E assim foi: alguns com seus brios feridos, alguns meio desconfiados – eu – e um que entrou na onda em cima da hora.
Trupe formada: meu pai, minha irmã, meu cunhado, um amigo de trabalho do meu pai, o dono da promessa e eu. Saímos da porta da minha casa.
Sem contar que esse amigo do meu pai era de Jacareí e já veio andando de lá mesmo, tomando cerveja e mais alguns destilados que prefiro nem saber quais eram... Além disso, tomou uma chuva no caminho e chegou ao ponto de partida bêbado e encharcado até o último fio de cabelo.
Engraçado era ver o arsenal: colchão, lanchinhos, roupas de frio, papetes e, acreditem: uma mala só de bananas. Essa idéia brilhante foi da minha mãe, alegando ser infalível contra câimbras. Só que se esqueceu de dar uma receita infalível para o torcicolo que aquela mala ia causar.
Todos carregados, alguns se livrando de alguns itens devido ao peso, nos organizamos e saímos rumo à Basílica. O dono da promessa, apesar de pesar uns 150 quilos, parecia um guia experiente na frente de todos, com seus passos firmes e nada a fim de papo. As duas únicas mulheres (eu e a mana) falavam e riam pelos cotovelos. O da banana já saiu com uma latinha de cerveja na mão, também falando e rindo alto.
Da minha casa até a Dutra é um percurso de mais ou menos 1h de caminhada maneira, na boa. Fizemos tranquilamente. Na Dutra, passamos vitoriosos pela Telhanorte, acenando para ônibus e caminhões que nos davam apoio moral para nossa jornada. Seguindo em frente, “tchauzinhos” e gritinhos eufóricos ao passar pelo Carrefour. Nesse momento, após 2h30 de caminhada, o dono da promessa faz uma cara de bebê que cagou na calça – sem fralda: “Pisei em uma grotinha – que merda é essa? – e torci meu pé!”. Era o prelúdio do sofrimento dos próximos 40 Km.
Fomos obrigados a fazer uma parada – não programada – no CTA, onde ele ficou sentado além do tempo que havíamos programado. Reclamou, resmungou e começou o drama. Levantou e foi se arrastando, diminuindo o ritmo que havíamos previsto.
Aos trancos e barrancos, passamos pelo Center Vale, pelo batalhão da PM, um grupinho de maconheiros perto do Makro, pela Veibras, ouvindo as reclamações do “homem da grotinha” sem deixar o bom humor ir embora.
E foi aí que fizemos a parada - que estava realmente prevista - para um breve lanche: General Motors do Brasil (o ponto de ebulição dos nossos nervos). O tempo máximo seria de 15 minutos, e então o “homem da grotinha” decidiu ir até a sua casa para passar algum remédio no pé –ele mora no bairro em frente a GM – para agüentar a caminhada. Demorou mais de meia hora. Pior que isso, voltou de Havaianas, com a maior cara de tacho que Deus lhe deu. Já sabendo do que estava por vir, todo o grupo ficou furioso e o xingou de coisas impossíveis de se reproduzir a essa hora... Sabíamos que ele estava amarelando... Enfim, ele saiu sob um coro de vaias e xingamentos, e nós, que já estávamos ferrados mesmo, decidimos continuar. A essa altura, o propósito de “Romaria” havia sido substituído por uma “Guerra das Vaidades”.
Irritados, com o corpo frio e as dores musculares querendo aparecer, seguimos nossa caminhada com o desfalque menos provável: o dono da promessa. Melhor assim, somente os bravos iriam seguir...rs
Num frio congelante, os dedos doloridos, com o tempo a raiva foi passando e as bananas sendo consumidas.
Fizemos mais uma parada em frente a Ericsson para massagear os pés, trocar os tênis por papetes, comer alguma coisa... Bastante cansados, nos esticamos um pouco, e o amigo do meu pai – aquele que bebeu e tomou chuva – decidiu tirar os sapatos. E assim, deitados num canteiro, sob o olhar desconfiado de alguns motoristas que por ali passavam , que tivemos um ataque de riso. Os pés dele “fumegavam” – essa é a palavra – parecia que estavam pegando fogo. Ele colocou os pés contra a luz e a fumaça saía de suas meias. Todos choravam de rir.
Com os ânimos recuperados, retomamos nossa caminhada. E foi aí que meu cunhado teve a brilhante idéia: tocar gaita. Se fosse o Bob Dylan, eu até acharia uma boa idéia, mas era o meu cunhado, que não toca nem campainha.
Tentem visualizar a cena: 5 caboclos se arrastando em meio a madrugada, – com direito a neblina – os faróis dos carros nos cegando, e uma gaita desafinada ao fundo (na verdade tão desafinada que não devo dizer ao fundo, mas ao centro, aos lados...): “FÓÓÓÓÓÓIN, FUNHÉÉÉÉÉÉ, FIIINNNNN, FRUMMMMM”.
No começo a gente até ria da situação, mas depois de alguns minutos já estávamos mandando ele ir para a PQP.
O amigo do meu pai perguntava a cada 5 min. “Em que cidade estamos?” – e meu pai – “Em São José dos Campos” - e ele: “ Caramba, mas essa cidade não acaba nunca!!!”.
E foi só ela acabar que o martírio começou.
Chegando em Caçapava, decidimos fazer uma parada no posto do Tigrão, para comermos um lanche – é, mais um, somos gordos!! Rodeados por periguetes fazendo ponto com os caminhoneiros , que nos olhavam desconfiados, devoramos nosso lanche rapidamente e levantamos acampamento.
Bom, não foi tão rapidamente, já que, naquele momento eu simplesmente travei. Permitam-me explicar o “travamento”: Minhas pernas travaram, não dobravam. Sabe aqueles desenhos animados em que o personagem é enterrado no cimento e as pernas vão se arrastando? É isso aí.
Primeiro todos achavam que eu estava dramatizando, e trataram de debochar de mim. Depois de sacarem meu martírio, algumas almas caridosas me ajudaram a levantar.
Fui pendurada na minha irmã e resmungando: “eu quero ir embora, não agüento mais!”. E ela só ria...
E meu pai: “Mas é madrugada, estamos no meio da Rodovia, não temos como voltar. Vamos ter que caminhar até a rodoviária e esperar o primeiro ônibus para SJC”. Acontece que a rodoviária estava a uns 10 km de lá ,e eu não conseguia andar nem mais um metro.
Agora, imaginem uma pessoa gritando na Dutra em plena madrugada (gelada)! A única que me agüentou foi a minha irmã. Até meu pai se afastou, já que não agüentava mais a minha choradeira. Aliás, eu já não chorava mais, eu gritava. E teve uma hora em que não gritava mais, eu urrava... O mau humor tomou conta de mim, afinal, eu já não sabia mais se minhas forças iam ser suficientes para esses últimos quilômetros. E foi aí, quando cheguei em frente a Nestlè que tive um piti – toda vez que passo ali tenho arrepios –“Paaaaaai!!! Volta aqui!!! Estamos ficando para trás, vamos ser raptadas aqui!!! – não sei que infeliz estaria na rua aquela hora para fazer isso, mas na hora eu realmente estava desesperada. Eu precisava de uma cadeira de rodas naquele exato momento!
Ele voltou e meu deu o apoio. Os últimos metros foram os mais horríveis da minha vida. Nunca senti tanta dor , sem exagero. Não tinha força nem pra falar mais...
Até que , não sei como, chegamos na Rodoviária. Parecia que eu estava chegando na Basílica, quase me ajoelhei...rs Na mesma hora nos jogamos nos bancos, e dormimos ali até a Rodoviária abrir . Alguns policiais passaram por ali algumas vezes olhando desconfiados, mas nem se deram o trabalho de parar e perguntar que diabos estávamos fazendo ali.
Quando a rodoviária abriu, compramos a primeira passagem de volta para SJC – a terra prometida – e o amigo do meu pai decidiu seguir para Aparecida, em nome da equipe desfeita. Só que foi de ônibus, é claro...
A partir daí, me lembro apenas do meu sofrimento final para subir no ônibus, já que minhas pernas não dobravam. Nem sei como, mas meu pai deu um jeito. Daí para frente, eu apaguei. Não lembro nem da viagem até SJCampos, muito menos do taxi até minha casa.
No dia seguinte, eu estava moída. Como se tivessem socado com um batedor de bife milhões de vezes em cada milímetro do meu corpo. Passei dois dias no sofá, com as pernas para cima. Sei que caíram 5 unhas dos meus dedos dos pés, bolhas enormes surgiram...
Brindamos nosso fracasso com caipirinha e feijoada.
No final, os únicos que acredito que chegariam ao destino seriam a minha irmã e meu pai (sedentária e idoso, segundo o “grotinha”).
De qualquer forma, prefiro dizer que minha romaria na verdade era até Caçapava, em nome da santa padroeira da cidade, mil vezes mais milagrosa. Só não me perguntem quem é.
Depois disso, não me arrisco mais, não permito que me incluam em nenhuma promessa (viu cabeçona?), porque não confio MESMO no meu taco. Tenho certeza que dá para ouvir minhas preces daqui, não é santinha?
Uma excelente semana – mais curtinha - para todos!!

2 comentários:

  1. foi hilário!! rsrsrsrsrs......e a Fabi hein! de sedentária a mártir na dutra, rumo à caçapava!rsrsrsrs

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  2. rs... é, a gente ri hoje....mas no dia foi terrível....kkkk

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